segunda-feira, junho 19, 2006

aliterações

Entro por ti a dentro batendo a porta - Paf! - gosto de aliterações. Tu receias a invasão do teu corpo e fechas as portadas. Melhor no escuro - penso eu - apesar da luz fosca te incendiar o peito. Revolvo-te as axilas e encontro os meus dedos a fugirem-me das mãos. Tamborilam uma leve percussão no teu sexo. Não era para ser agora. Afinal temos tempo. Divirto-me com o teu mindinho do pé. Sou deveras infantil. Faço-te cócegas ao avesso para te ver fugir de mim. Tropeças no teu desejo e voltas atrás. Desapareces entre as minhas coxas mas sei que te ris do meu desmaio. Ficas bonito a olhar-me de soslaio quando procuras o pudor da minha consciência. Olhamos o tempo lá fora e ficamos calados. Sabes tão bem quanto eu que está a chover. Adiantará dizer-te que está frio se os meus seios anunciam a tempestade? Trazemos a intempérie aos lençóis para que se lavem depois do pecado. Deixaste o rádio ligado e só agora me apercebo do som. Provo-te o sabor porque acredito poder alimentar-me assim. Há já tempos que te digo que nos bastamos. Apanho o último suspiro e ponho-o no teu ouvido. Dizes que faço amor em surdina mas que guardo gritos no útero. Tiro-te de mim e deito-me ao teu lado. Poderia ser sempre igual não fosse o prazer da diferença. Trago o peso da tua perna às minhas costas para que me aqueças a tarde. Repetem-se os movimentos circulares das bátegas – plim, ploft – como rezas profanas. Tudo o mais se abençoa no mudo sono vencedor.

9 Comments:

Blogger Hipatia said...

Pecado? Qual pecado?

;-)

10:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Aliterações ou onomatopeias?...*

10:16 da tarde  
Blogger sisifo said...

Confesso a minha perplexidade: não vejo em que momento, em que circunstância, em que perspectiva é que pode não ser um poema!

10:24 da tarde  
Blogger Bastet said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

11:17 da tarde  
Blogger Bastet said...

Só mais um pormenor SGC a aliteração não está no texto... é uma "private joke" ;)*

11:19 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Bastet,
Concedo-te, de bom grado!
E,claro, percebi a "private joke"... ;-)*

2:36 da tarde  
Blogger vague said...

É engraçado que este texto sendo romântico e pessoal, traz um mais q para mim o enriquece, q é uma cadência muito regular e pontuada do início ao fim. Como se não tivesses parado para pensar ou para sentir o q escreveste pq afinal o q se escreve se sente ou se se ensaia sentir, jorra, simplesmente, com o seu eu muito próprio.
As frases têm uma música especial que se encerra e se renova, em cada ponto final e em cada letra maiúscula.
É isso, Maria Bastet, é o ritmo das frases que me cativa neste texto e as contradições, as curvas, o 'se não há ovos faz-se omeletas' :)
A desconstrução mesmo que seja eu a imaginar tudo isto só para me ouvir :)

6:09 da tarde  
Blogger Maria_Oliveira said...

Ui... isto complicou-se...
É o que dá andar tão arredia destas lides.
Deixo-te um abraço forte.
Maria Oliveira
www.remoinhos.blogspot.com
(O folhetim desempanou...)

3:18 da manhã  
Blogger Bastet said...

Vague: alguns professores diziam-me que eu era especialista em fazer omeletas sem ovos... :)*

Olá Maria! Depois de tanto tempo estás finalmente de volta! Bem vinda sejas e um beijinho. Vou lá espreitar o folhetim mais demorado da história da blogosfera :)

11:03 da manhã  

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