segunda-feira, abril 17, 2006

a felicidade é fútil

Houve um dia em que a felicidade se foi embora batendo a mesma porta por onde entrara, e eu fiquei por ali a ver o espaço ausente que ela me deixava, tentando perceber as suas razões, tentando reorganizar-me e redecorar a sua falta. Não posso dizer que só me apercebi da sua existência no momento da sua partida. Fui abençoada com o dom de a experienciar ao meu redor e, talvez por isso, não deixei de me sentir melhor mesmo quando, em todos os dias e em todas as noites, pus a chave na fechadura e lhe dei duas voltas trancando qualquer regresso. O tempo baralhou-se desde então, como se na falta de marcos as datas se perdessem por comezinhas, desinteressantes, banais. O tempo, que parece fugir a diferentes velocidades, é constante e preciso. Eu não o sou. Serei apenas o que me resta de dúzia e meia de sensações, de risos, suspiros e lágrimas que, volteando na memória em viagens muito rápidas ao passado e ao presente, me fazem sentir ora mais jovem ora mais velha e cansada. Mas nada disto é muito relevante. Mais importante será a felicidade fútil e tão cheia de caprichos. Volúvel, duma adolescência constante e desconcertante, que nos transporta ao melhor de nós mesmos, para logo de seguida nos desiludir com a sua súbita partida, deixando-nos a braços com a vulgar existência e com um amargo de boca de quem já saboreou melhores acepipes. E não é de crer que lhe possamos resistir aos encantos, impedindo que nos volte a franquear a porta e que de novo nos deslumbre e nos leve o tino. Aceitemo-la pois tal como é. Visitante inesperada. Hóspede alegre mas desprovida de sentido. Saibamos tirar partido dos seus revezes e deitá-la connosco na cama para que nos aqueça por momentos a existência.

14 Comments:

Blogger . said...

Como sabes, a teoria da relatividade explica que o tempo não é um absoluto, mas sim uma variável em função da velocidade a que te deslocas. A teoria da relatividade especial apresenta dois postulados: 1) as leis da física apresentam-se iguais num determinado frame estático; 2) c (da fórmula E=mc2) é uma constante porque se entende que, no vácuo, a velocidade da luz se propaga a uma velocidade constante (como sabes, isto não será absolutamente verdade se se demonstrar que a captura da luz por um objecto capaz de o fazer - como um buraco negro - altera essa velocidade - mas isso é outra questão). Ora daqui resulta que se dois observadores partilharem o mesmo espaço em frames estáticas diferentes, para eles a percepção de tempo é diferente, porque aquele que se deslocar a uma velocidade mais elevada viverá, por assim dizer, de forma mais lenta, ou seja, terá a mesma percepção do tempo mas este passará, de facto, mais devagar que para o outro (isto colocado em termos simples ...).
Por isso, o tempo não parece fugir a velocidades diferentes. Ele foge, de facto, a velocidades diferentes. E não é nem constante nem preciso.
Pronto, corrige lá a treta do post.

6:09 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

( Dissipando a vacuidade deixada pela felicidade),
Então,só nos resta esperar que ela nos visite,de novo, e que saibamos ser excelentes anfitriões... ;-)
*

6:51 da tarde  
Blogger Hipatia said...

Frívola? Vã? Leviana? (caraças! não me lembro de mais sinónimos!) Sim, será tudo isso. Mas é também muito mais. Talvez não passe tudo da nossa parte animal a bombardear-nos de endorfinas. Depois... bem, depois resolvemos racionalizar a coisa e acabamos é a complicar ;-)

8:32 da tarde  
Blogger Bastet said...

Caro AR, alguns motivos pelos quais não corrijo a treta do post: aqui o tempo é uma convenção humana e poética e por isso constante e preciso, e não falo aqui da influência da aceleração das partículas de matéria e muito menos ainda da absorção feita pelos buracos negros que não serão objectos e que se acreditava nada deles poder escapar e afinal até parece que não é bem assim porque poderá depender das rotas de circulação das partículas e das falhas nas paredes dos ditos buracos mas... como não percebo nada de física, falo de coisas corriqueiras como as vinte e quatro horas diárias que vêm a sua percepção adulterada por algo tão simples quanto a felicidade. :)*

SGC: é essa mesmo a ideia sermos bons anfitriões do que a vida nos resrva de melhor! :)*

Hipatia: poderá ser tudo isso de facto, até pode ser uma enorme p##a mas é bom vivê-la com a intensidade devida :)*

10:49 da manhã  
Blogger . said...

Nesse caso a Felicidade poderá ser equiparada ou à massa de um buraco negro ou à velocidade a que tu vives as tuas vinte e quatro horas o que poderá significar a alteração do teu binómio espaço/tempo e, por isso, se enquadra perfeitamente na teoria da relatividade restrita e, portanto, significa que o tempo não parece fugir a velocidades diferentes mas, de facto, foge a velocidades diferentes.
Pronto, corrige lá a treta do post.
AR

1:58 da tarde  
Blogger Bastet said...

já te disse AR, não corrijo a treta do post. E não, a felicidade não pode ser comparada a nada.

3:07 da tarde  
Blogger A Tendinha said...

Concordo, Bastet. Por vezes a felicidade esconde-se. Por vezes nós próprios não a deixamos entrar em nós. Há que a receber de braços abertos quando nos espreita, deixarmo-nos invadir por ela e deixarmo-nos levar (isto é a minha parte lamechas a falar, depois há a outra, que acha que ninguém é feliz :D )

3:40 da tarde  
Blogger forass said...

Sabes aquela família que era tão pobre que para se entreterem à noite o pai dava peidos e os filhos e a mulher riam, batiam palmas e ficavam todos contentes, cheios de felicidade?

3:52 da tarde  
Blogger batista filho said...

"... por enquanto enxergamos em parte..." inclusive a felicidade!... e nesses momentos que nos são concedidos desfrutá-la, cá pra nós, que maravilha, hem?

Um abraço fraterno.

8:26 da tarde  
Blogger . said...

A Felicidade é um elemento de massa variável. Daí que a energia produzida seja, também, variável. Essa energia dá-te a medida da Felicidade que sentes. Uma vez que a sua massa é variável, enquadra-se num binómio espaço/tempo estático e, simultâneamente, variável. Compreende-se isto se visto na perspectiva sofista da tartaruga e do atleta, que nunca chega a ultrapassar a primeira porque o movimento é composto por uma infinidade de momentos estáticos. Utilizando esta perspectiva filosófica é fácil compreender a lógica de movimento estático que permite à Felicidade variar a sua massa e, consequentemente, a sua energia.
Não é claro que a felicidade não possa ser comparada a nada. O facto de variar a sua massa dificulta, sem dúvida, a sua comparação. Mas pode, eventualmente, ser comparada com outro elemento de massa variável se, num determinado momento, as suas massas forem iguais ou, pelo menos, equivalentes. Estou a pensar, por exemplo, no Desespero, na Tristeza, no Extase e noutros elementos da mesma classe.
AR

10:53 da manhã  
Blogger Bastet said...

Qual é a massa dos sentimentos AR? Se a tiverem é sem dúvida variável e talvez a da felicidade seja inversamente proporcional à do desespero mas não me parece, com grande pena tua, que a teoria da relatividade possa ser aqui aplicada, sob pena de tornarmos estáticos os movimentos da alma.

11:06 da manhã  
Blogger . said...

A questão é pertinente. E, não sendo fácil, talvez se encontre uma forma de obter uma ideia aproximada, necessariamente variável de caso para caso. Assim, suponhamos a massa de ausência de sensações, que poderemos considerar um estado neutro, como 0. Tomando este 0 como base, consideremos os sentimentos que nos trazem felicidade como X e os que nos trazem infelicidade como X'. A intensidade será, depois, classificada como Y e Y', sendo que Y indicará uma valor positivo e Y' um negativo. A questão, aqui, dos negativos tem apenas intenções gráficas. Na avaliação das massas respectivas, os valores serão sempre positivos. Assim, tomemos a satisfação como 1, a alegria como 2, a felicidade como 3 e o extase como 4. Igualmente, a insatisfação como -1, a tristeza como -2, a infelicidade como -3 e o desespero como -4. Igualmente, se for uma intensidade pequena será 1, média será 2 e grande será 3. Desta forma, seremos capazes de representar gráficamente as nossas sensações pela obtenção de coordenadas. Por exemplo: S(1,1). Ou, de forma descritiva, Sentimento(satisfação, pequena). Outro exemplo: S(-2,-3). Ou seja, Sentimento(tristeza, grande). Como sujestão, multipliquemos agora os valores das coordenadas para obtermos a massa dos sentimentos. Assim, no primeiro caso, mS=1. No segundo, mS=6. Obtida a massa, utilizemos E=mc2 para obteres a satisfação (ou não) de um sentimento (a sua energia): E=1*90.000.000.000, ou seja, E=90.000.000.000 (assumamos a velocidade da luz como 300.000 Km/s). No segundo caso: E=6*90.000.000.000, que resulta em: 540.000.000.000 . Neste caso, a Energia produzida por uma grande tristeza ...
Ficou claro que isto é analisável de forma matemática ou tenho que fazer um desenho?
AR

12:06 da tarde  
Blogger shark said...

A raiz da felicidade é quadrada e a sensibilidade (muito flutuante) é uma variável que dá cabo das contas no meu paupérrimo raciocínio circular nestas matérias. Ilíquido de dados adquiridos e de certezas ou de quantificações, descubro a constante na presença da emoção quando a vejo toda nua, reproduzida de uma forma despida de espartilhos ou de convenções.
Não pretendo contrariar o amigo AR na sua lógica irrepreensível que arrasa em absoluto os meus devaneios sem rigor, cada um interpreta (ou calcula) a vida de acordo com a sua tabuada subjectiva e a prova dos nove (mais sessenta, que eu gosto é de contas de somar) é o prazer que extraímos (ou não) de a usufruir (que se traduz também na forma como a exprimimos, afinal) .

Não corrijas o post. É uma fezada minha...

12:45 da tarde  
Blogger Bastet said...

:) não sharkinho, não corrijo, é também uma fezada minha! Obrigada!

4:11 da tarde  

Enviar um comentário

<< Home