morreram-me as palavras
Estou em crer que as palavras me morreram. Ponho-as no branco e ficam brancas, mais pálidas que o meu desejo de fazer qualquer coisa acontecer. E porque elas vêm de mim, ou de parte de mim, nada em mim agora renasce. Sinto-as atrofiar em vocábulos minimalistas, grãos de pó. Ao pó a que também as palavras tornam com a morte. Em fragmentos de poeira, vejo-as voar mais alto que o impulso que lhes dava, quando tentava fazê-las subir aos meus tontos pensamentos, flamejando-as de amor e mágoa, para as servir depois em risos ou prantos. Estou certa que as palavras me morreram, porque conheço o berço de onde provinham titubeantes, aprendizes de falas e versos e que, quando lidas, me soavam a cantigas do meu mal ou bem dizer. Morreram-me as palavras e sinto-me despida sem elas, sem saber preencher os vagos espaços onde as encavalitava por prazer. Sou menos sem elas. Sou parte de mim apenas. Amputada da fome que lhes tinha, apodrecem-me bolorentas como se lhes fosse indiferente. Estou ainda aqui dedilhando sem alegria as que me restam. Sentindo a falta do turbilhão que antes me queimava de avidez e febre, não reconheço a minha escrita. É-me exterior, rigorosa no medo do intérprete que sem alma ou jeito, acompanha em marteladas de piano, a missa provinciana num qualquer Domingo. Este é o testemunho do meu luto.
25 Comments:
As palavras não morrem. Podem quedar-se mudas. Só isso.
Tu já andavas a ameaçar...!
olha lá o que é que isso quer dizer pá????
Bom vamos lá ver....
Não te preocupes que é impossivel as palavras morrerem porque elas alimentam-se no talento da tua escrita
beijocas
... esta balada, a sua música, só podem levar-me a dizer: morrendo desse modo as palavras, não morrem, levedam para nova - espero que rápida - reencarnação... um beijo
( o Estetoscópio, a Lupa e a minha retina)
Não lhe morreram... ;-)
*
Só te conheço daqui: das palavras que afloram do teu íntimo e tão generosamente conosco partilhas. Por vezes fica difícil (por tantas razões!) exprimir o que estamos a sentir. "Num" esquenta a cabecinha por causa disso não, tá? Se preciso, deixa estar, por um tempo. Quanto tempo?... quando chegar a hora de colocar em palavras o que estás a sentir, saberás por certo. Um abraço fraterno e solidário.
Sim, eu também ando cheio de trabalho e sem tempo para escrever. Mas não passa de uma fase. Isto é um bicho que está dentro de nós, não morre... Quando menos se espera, lá estamos defronte do pc a teclar. Eu sei, é sempre assim...
morreram-te? não acho... assim, em cascata tão cristalina e de pingos que me molharam, elas n foram de menos, ou de mais, foram as certas para elegia à Arte de (bem) escrever.
Tradicional mas sentidamente, Parabéns
Quando as palavras ficam 'brancas no branco' por vezes é falta de tinta.
Estas aqui são o reflexo de uma excelente capacidade de escrever.
A Lua também tem fases... que o diga eu nativa que sou de caranguejo.
* :)
You only live twice...
You only live twice...
LR
Quantas vezes escrevi aqui um comentário!... Se não fosse o leme de a-bordo nunca conseguiria achar-lhe a rota de destino... sei que principiava assim: que não morram nunca essas palavras - e que fazia uma comparação com o som do violoncelo que continua a pairar sobre os corredores de casa mesmo depois de termos pousado o arco...
Bastet, gatinha linda, as palavras são as nossas mais fieis companheiras e, se nós quisermos, estão sempre connosco...
Um beijo e *sódades*
:)**
olá, querida! antes de mais sou uma admiradora incondicional da tua escrita e tenho recomendado o teu blog aos amigos, merecidamente.
Em segundo lugar gostaria de levar este teupost e mostrar aos amigos que não conhecem e em 3º tens um desafio na Sebenta à tua espera.
Um beijo, th
Que me morram as palavras se for o necessário para vos ter por perto. Obrigada. Muito mesmo.
Nós é que agradecemos as palavras que nos ofereces.
* :)
Elas não estão mortas; esconderam-se na neve. Agora, com a Primavera vais vê-las renascer com outro viço. ;)
... tem uma prenda pra ti, numa certa ilha...
eu sei que foi ontem
já me fustiguei como convém, mas não aguentei o silicio mais tempo
Um grande, grande beijo para ti minha querida, e que faças muitos e muitos e muitos
:-)****
Obrigada aqui também baptista.
JP: é hoje rapariga, acertaste! Eu sei que pareço uma mentira mas não sou de um de Abril, sou de dois! Eh, eh, eh!
eu sabia que és de dois, mas trabalhei já tanto este fim de semana que já estava convencida estar a 3...
tenho que voltar ao Nostan...
tens prendinha no mail e na terra do faz de conta
beijos bigodes
Não fosse a arrogância diria que sou normalmente boa retratista.
Também gostei de te conhecer.
E dos olhos, sobretudo dos olhos felinos, que guardam, sabes bem, quase todas as palavras que dizes terem desaparecido.
:) um beijo elíptico para ti!
Passo importante: reconhecer que as palavras morreram.
O pior é quando isso acontece quando não se nota. Cadáveres delas são expelidos de forma... irresponsável.
Chamo isso de amargura, a qual conheci recentemente.
Desculpe a invasão, abraços!
Caro amigo Adriano Brito, em primeiro lugar eu gosto de invasões por aqui e só as posso agradecer! Este post correspondeu de facto a uma fase de angústia em que as palavras me pareciam ter deixado de fluir e que era necessário quase um esforço para as alinhar em texto. Espero que quando elas me morrerem de vez eu possa dar conta disso e abster-me de violentar! Obrigada.
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