chamassem-me ainda mulher
Desta imagem do Revelações surgiu o desafio das Palavras em Linha:
Tenho nos olhos a ironia do que fui e ninguém sabe ou lembra. Tenho por vezes a tristeza desse esquecimento. Sei que este velho invólucro não ajuda à memória ou ao amor dos outros e, por isso, vivo sobretudo de recordações. Sinto o mundo da mesma maneira, o pulsar da terra e a diferença de um dia a mais. Tenho a vontade de gritar que ainda sou a mesma mas a certeza da estranheza desse grito. Porque somos sempre os mesmos. Iguais. A mesma essência numa matéria que se faz em brancos, dores e rugas. Esperei anos em vão pela suposta transformação. A que faria de mim alguém mais próximo do meu corpo. A que me transformaria na consciência da minha idade. E como é cruel ver-me como vi outros em outros tempos, quando então passava lesta e indiferente ao futuro. Quando o futuro nos chega às mãos e ao rosto apanha-nos desprevenidos. Porque somos a criança vestida de anos. Esperava eu que pudesse ser de outra forma. Que houvesse um lento descarregar das baterias da vida e da vontade para que me fosse indiferente o lugar que me cedem ou a beata compaixão que me concedem. Queria então justificar o jovem orgulho que me resta, sem o patético desprendimento que finjo. Ou que por milagre me vissem por dentro, para que lessem a origem desta arrogante agressividade. Põe-me nas mãos o caldo, a sopa que me alimenta a persistência mas que não me dá forças para me por fim. Pussessem-me na boca um beijo e escolhas nos dedos, chamassem-me ainda mulher e eu entenderia a roupagem deste meu destino.
Tenho nos olhos a ironia do que fui e ninguém sabe ou lembra. Tenho por vezes a tristeza desse esquecimento. Sei que este velho invólucro não ajuda à memória ou ao amor dos outros e, por isso, vivo sobretudo de recordações. Sinto o mundo da mesma maneira, o pulsar da terra e a diferença de um dia a mais. Tenho a vontade de gritar que ainda sou a mesma mas a certeza da estranheza desse grito. Porque somos sempre os mesmos. Iguais. A mesma essência numa matéria que se faz em brancos, dores e rugas. Esperei anos em vão pela suposta transformação. A que faria de mim alguém mais próximo do meu corpo. A que me transformaria na consciência da minha idade. E como é cruel ver-me como vi outros em outros tempos, quando então passava lesta e indiferente ao futuro. Quando o futuro nos chega às mãos e ao rosto apanha-nos desprevenidos. Porque somos a criança vestida de anos. Esperava eu que pudesse ser de outra forma. Que houvesse um lento descarregar das baterias da vida e da vontade para que me fosse indiferente o lugar que me cedem ou a beata compaixão que me concedem. Queria então justificar o jovem orgulho que me resta, sem o patético desprendimento que finjo. Ou que por milagre me vissem por dentro, para que lessem a origem desta arrogante agressividade. Põe-me nas mãos o caldo, a sopa que me alimenta a persistência mas que não me dá forças para me por fim. Pussessem-me na boca um beijo e escolhas nos dedos, chamassem-me ainda mulher e eu entenderia a roupagem deste meu destino.
15 Comments:
Arrepia, sendo bom ao mesmo tempo, que sejamos sempre a criança, vestida de anos. Mas é de muita estranheza o que se pensa ou o que se sente; ou é porque o frio e a quadra nos arrepiam primeiro...
Talvez noutra altura do ano nos saísse (a ti e a mim)um texto mais leve.
Obrigada pela (pronta) resposta.
vim a correr, tropecei no rato, baralhei as teclas todas, limpei o monitor! ufffa , para te dizer que já podes assinar o meu postal, depois da minha falha informática, que expliquei via mail, e assim ficou reposto o teu nik, no lugar onde estava.Trabalhar em 3D e por camadas ou níveis que estou sempre a activar e a desligar!acontece.Desculpa. :)
quanto a este belo texto!vou guardá-lo no meu baú das obras de arte :)
parabéns
bjks
Sugiro-te, se não levas a mal, que faças link para o revelações. É que quem me enviou a foto também merece destaque. E ainda por cima anda ausente sem ter tido oportunidade (suponho) de a ver editada e "trabalhada".
Obrigada e um beijo.
a-desenhar: Nunca levaria a mal um link desaparecido, ou esquecido, ou sequer não posto... logo eu que nunca estou a par dos links e que sou uma preguiçosa para actualizar os meus :) Deixo-te um beijo grande e um obrigada por vires até cá mas olha que não recebi nenhum e-mail, enviaste para o endereço certo?
Okay Palavras em Linha vou tratar disso :)
Feliz Natal!!
Uma beijoca gd para ti e para a linda!
Feliz Natal para vocês e que novo ano vos traga muita sorte e inspiração para continuarem o vosso lindo trabalho e que nos traga também uns dinheiritos a todos para que eu possa coleccionar as vossas peças :) Um beijo à caipira! :)***
...abraço de Feliz Natal
oláááááááá´
aqui estou eu a mandar-te uma beijoca de FELIZ NATAL.
que tudo corra da melhor forma
Beijos doces
Triste mas verdade.
Este texto é forte, um murro no estômago. E o meu q estava tão aconchegado do recente chá com sonho.
"Porque somos a criança vestida de anos"
Queridos Mocho, Asul e Vague, os meus votos de um Feliz Natal para vocês.
Pois é Vague Maria... somos a criança vestida de anos...
E para o Lobices também, é claro, um Santo e Feliz Natal (já tinha deixado estes votos no teu blog!). Um beijo.
E como me pesa esta roupagem...a ponto de tb a mim me não apetecer natais...mas beijos eu quero dar e desejar tudo de BOM! th
Bastet, obrigado pelas palavras que servem a imagem, é engraçado ver as várias interpretações que cada um dá !
Um beijo e um Feliz 2006!
Olá Tózé! Muito obrigada por ter passado por cá e ter visto o meu texto que serve a sua belíssima imagem. :)
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