sonhos e dias
Ela penteava-se de fronte do espelho, olhando para lá da sua imagem, esquecendo os seus cabelos revoltos, fixando o futuro, descodificando os dias e os acontecimentos. Para lá do que via e pressentia, cruzava os braços ao destino, entristecida pelos reflexos solitários e pela espera de uma sorte diversa. Logo atrás, reflectia-se no espelho a cama de casal e, parecia-lhe, os corpos que a habitavam ainda. Entregava-se à recordação de um outro Inverno, quando a paixão revolucionara colchão e lençóis fazendo-a sentir-se completa. De algum modo a completude era passageira, apreciável por momentos em que se toca o infinito, para logo após se desvanecer em pequenos fragmentos de memória. Cansava-a saber demais, ter tido no corpo o Universo Divino para reconhecer agora a trivialidade do sexo. Questionava a ironia do conhecimento, a lógica da apreensão da felicidade e a sabedoria da intimidade do seu corpo e das suas exigências. Poderia bem viver a solidão, agora que lhe entendia os contornos e o fantasma da paz que comportava nas entranhas. Poderia viver de metades, arquitectando a espaços o sólido edifício da plenitude, mas não conseguia alienar o sonho que se prometera, com receio de se banalizar, de se acobardar, de se desgostar de si mesma. Difícil é a resignação viver paredes meias com o sonho, porque este transborda em força e inocência, desmascarando as lágrimas da insatisfação num qualquer momento de entrega. Impossível é matar a alma que ganhou asas e deixá-la fenecer, inanimada dentro do corpo. Disfarçar a vida com a morte, a realidade com serigrafias tão perfeitas que a sua imagem ao espelho fosse ainda uma obra de autenticidade.
26 Comments:
Bastet, abre a janela e ouve a chuva cair. Ouve. Saboreia-a.
Beijo :)**
Resignação, capitulação, desistência, arrumação, são palavras de conteúdo morto. Ocorrem apenas quando, por momentos, somos incapazes de absoluto. O relativismo está em toda a parte e parece ter tomado conta de todas as sensações. Mas o real não é assim. Tem em cada instante um valor que não é inferior ao instante anterior. O pior de tudo é sentirmo-nos obrigados a sentir coisas que nos parece que outros acham que deveríamos sentir e ficarmos perplexos com o caótico percurso que a individualidade, muito justamente, prefere.
Mas há uma perversidade nestas coisas: a partir de um sentido de sofrimento, imobilidade e hipotética angústia, resulta um texto belo, cativante e perturbador.
:)
boa semana p/ti :)
a tua filhota está bem!
bjs
Olá Sara! Acabo de vir da chuva, directa numa cabeça sem chapéu! Caracóis molhados e aqui estou eu! :)
Obrigada aibieme pelas suas palavras :)
Querido a-desenhar, a miúda está bem mas pegou-me o vírus a mim... Estou agora com uma voz ainda mais abagaçada que o costume mas tenho tomado o mel pela manhã ;) Um beijo para ti.
Não te sei responder. Ainda estou à espera do reflexo completo no espelho, aquele que perdi ou quis perder, aquele que quis esquecer e não sei, no dia seguinte àquele que escolheram para celebrar todos os mortos nas estradas. E para esses, sim, não há regresso. Ficamos nós e a nossa teimosia no tentar ainda levar.
Beijo
ai, ai, bastet... sempre que te leio fico com vontade de escrever... és um bálsamos para a minha jovialidade, presença de espírito e liberdade intelectual... que saudades que tenho de ter tempo para isso... beijos grandes! (saudades tuas, tb!)
Hummmm andamos um pouco murchitas não????
Vamos lá voltar a por um sorriso lindo dos teus nos teus textos se faz favor
beijocas
Saudades tuas também Softy! E da tua terra e do belo almoço e da porta que escondia o monstro que comia as meninas que não comem :)
Hipatia: Li o teu post mas fiquei sem saber o que te dizer. Um beijo.
Mochinho, este era um post murcho de uma gata rouca mas prometo sorrisos nas palavras para te alegrar o bico :)
Minha Nossa Amiga ... como tu escreves bem !!!!
Esta frase devia ser retirada do teu post e espalhada por todos os cantos da cidade, do país, do mundo: «Impossível é matar a alma que ganhou asas e deixá-la fenecer, inanimada dentro do corpo» !!!!
Sabes que muitas vezes é nas situações de adversidade que descobrimos forças que nem sequer imaginamos ter !!!!
Como está a tua menina minha querida ??
Beijoca encaracolada ;)
Dizes com profundidade de sentimentos controversos, de escolhas, de dúvidas - e dizes bem, mui bem. Torço para que encontres o que as palavras não conseguem trazer pra gente, dentre outras coisas, Paz. Um beijo solidário.
Olá caracolinha! Acabo de vir de tua casa e de ler o teu post sobre a maria rita que também eu gosto muito de ouvir. A minha melga já está boa só que deixou o vírus de herança para a mãe pelo que estou quase sem voz e sem dormir há duas noites graças a uma tosse chata, seca, irritante, daquelas que faz comichãozinha na garganta e que só apetece arrancar as goelas!
Obrigada Caracolinha pelas tuas palavras, deixo-te um rouco ron-ron :)
Baptista Filho, estive a navegar no teu barco de papel e a recordar como desde sempre procurei a felicidade, a mais completa, aquela que nos transborda no sorriso e sei, como sempre soube, que está ao meu alcance. Um beijo :)
Não q isto te interesse :p
mas li de rajada,
pois apesar de teres uma escrita e um vocabulário densos e ricos (o q poderá às vezes dar aazo a alguma dispersão ou riqueza 'excessiva'),
nenhuma palavra está a mais. Todas se encaixam na dimensão perfeita de um coração que é também o coração de um outro eu.
A riqueza excessiva das palavras contrasta com a míngua dos euros :) esse vencimento que eu gasto tão de rajada quanto a tua leitura e também lá, infelizmente, nem um euro está a mais! lol!!! :)*
(De um coração que também é o de um outro eu, q por acaso é tb o meu.)
Não encares o adjectivo 'excessivo' como pejorativo, q não era essa a intenção nem podia ser, do q me conheces e eu me conheço :)
Tem a ver com o escrever densamente, ricamente, sentes cada palavra, assim o sinto eu.
E essa riqueza é própria de quem sabe escrever e tem excelente vocabulário como deriva tb das paixões da alma. E aí, como te entendo essa paixão.
Toda a paixáo será por natureza excessiva, não achas? A maixão pode ser considerada um excesso e no entanto quero viver permanentemente apaixonada...e feliz, bem entendido ;)
Aquele beijo de quem bem te entende.
As melhoras. Mas olha que as gatas roucas são sexys ;)
a tua tosse chata, seca, irritante já passou!
ora aqui vai um tratamento caseiro eficaz... :)
cortas umas rodelas de cenoura e vais colocando num recipiente, por camadas alternadas com açúcar, 5 ou 6 .no dia seguinte está pronto a ser utilizado.o
resultado final será uma mistura bem adocicada com sabor a cenoura.3 dias é o suficiente para poderes gritar pelo teu clube :)))))))
bjks
O que adesenhar sugere como cura da tosse é uma receita que a minha avó utilizava tb.
De vez em quando lá em casa, dentro de uma tijela, rodelas de cenoura em camadas, entusiasmavam-se, melosas, com o açucar :)
Pois é vague, o xarope de cenoura do a-desenhar trouxe-me de rompante o meu pai à memória. Também ele costumava encharcar os filhos com este xarope caseiro bem docinho :) que saudades... E, também por coincidência as palavras do buddha breezer o fizeram lembrar, dizia ele que quem não tem medo é idiota e que a coragem residia precisamente em conseguirmos ultrapassar o medo!
Quanto ao resto Vaguezinha sei bem que ambas somos excessivas no que diz respeito às exigências do amor e da vida!
beijos solidários também para ti mc!
querida JP, a voz até que fica sexy mas as olheiritas nem tanto :)
Bastet,
Temeridade e coragem são duas coisas bem diferente. Ser corajoso é ir mais além, pois há perigos de q se tem consciência e a coragem é vencer o medo. Quem é temerário não tem medo pois não se apercebe do perigo (eu fui várias vezes temerária e só qdo mais tarde parei para pensar é q fiquei com medo:)
Sentir o medo na pele, e mesmo assim dar um passo. Estar inseguro e mesmo assim avançar.
E o pior é o medo do próprio medo.
E com esta conversa toda sobre o medo, fiquei com um receio difuso cá dentro,
será...?
xô Maria Vague! Qual receio difuso, tem mas é juízo! (diz o roto ao nú) :)
Caro Seth quem ficou desasada fui eu, sem jeito nem graça perante um tão grande elogio. Muito obrigada.
Será que vou conseguir desta vez?
Ahahahah! Este blogger tem piada, não tem? Agora que já te enviei o comentário por e-mail porque não consegui pô-lo aqui... bem, agora só me resta desejar que a pulguinha pintalgada melhore depressa e tu também, dessa tosse cavernosa (já tem ursos? :DDD )
(Ó Vaguezita, já não excedeste o teu tempo de antena neste post? :DDD )
(e agora vou lá abaixo escrever haagaon, il há com cada uma... ;) )
Olá Noite! Registo finalmente aqui o teu comentário se bem que já respondi ao e-mail. Sabes como é a Vague... excede sempre o tempo de antena :)
Aproveito para rectificar o meu comentário lá em cima em que respondi erradamente à Judite chamando-lhe JP. Um beijo para ti Judite
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