o engodo
A sabedoria da espera alimenta-a o virar dos anos. Na quietude das águas borbulha a energia estática da fé. Quando o peixe nos vem ao alcance do isco, rendido ao destino que crê ter escolhido, traz a ilusão de que a sua escolha se ficou a dever ao seu movimento. Só mais tarde, quando já aconchegado no colo das redes, poderá porventura perceber que jamais optou deixar-se pescar. Foi, outrossim, ao engodo de outra mais forte vontade.
4 Comments:
Forte vontade, que também é sua… Penso que se se poder dizer assim, como parece ser possível de ser dito, começo então um exercício um pouco detestável. E, então porque o fazes? - Já lá vamos, depois de agradecer este post. Porquê? – Comecemos primeiro com um então. – Então? - Aqui começa alguma dose do detestável pois sou obrigado a uma primeira auto-citação, e encontro nas auto-citações – sem saber muito bem porquê – qualquer coisa de que não gosto. E se assim é, então porquê? – Porque é que ainda assim o fazes? – Continuo. E sou obrigado a deixar aqui escrito que estranhei que tendo acabado de responder a um comentário teu e tendo usado metáforas com peixes, vim aqui e encontrei novamente os animais. Telepatia? – Deixemos a Lara Li em paz. E passemos a um segundo exercício. Saudável primeiro porque verdadeiramente agradecido. E agradecido porque de algum modo confirma uma hipótese que me é grata, a hipótese de São Paulo de que somos dotados de duas vontades, hipótese que se não tenho por garantida, tenho pelo menos por fiável. E ao dizer isto, acabo por voltar ao detestável. Podia evitá-lo, dizendo que ainda bem que aqui está porque é coisa que está bem. Mas não. Tenho de dizer que já o disse, mesmo quando sei que o facto de o ter dito não tem importância maior. E então!? Porque o dizes!? – Porque também eu como o peixe vou pontuando os menores passos do que escrevo, por esta duplicidade que não só nos atormenta, como nos também espanta. Menos, quando também é partilhada pelos outros.
Um abraço.
Talvez a telepatia das preocupações partilhadas. As duas vontades: a de viver caminhando para a morte, ou outras duas quaisquer. Ou a vontade superior que se confunde pela similitude do caminho com a vontade menor? Não sei. Sei-me grata pelo comentário. Abraço também e um obrigada pelo estreitamento das malhas!
O mais extraordinário é que somos mais lentos que o peixe a compreender o engodo. Faltam-nos os instintos do animal. Demoramos mais tempo a sufocar.
É muito bom passar por aqui.
Sufocamos rapidamente mas continuamos vivos naquele limbo de eterna dormência. O peixe, vítima da vontade superior, mas também da sua própria vontade, ou da incapacidade de medir as consequências dos actos. Muito como nós..
Prometeu
Esparsos
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