entre o nada e o talvez
Agora não há tempo porque é tempo de agora. Sem promessas ou arrependimentos nem passados perpassados nesses olhos de dúvida e lágrima. Agora não é sempre, não tem esse peso de jura eterna, agora é tão só um tempo de liberdade. E antes este agora que o outro nunca mais. Esta escolha não macula nem dói. Dói mais essa rédea no pensamento, o esgar do sofrimento pelo corpo sem sombra e sem reflexo, pelo espectro. Não se chame quem não vem ou se invoque quem perdeu este momento. A vida perde-se e não se repete. Qual o mal da oferta destas mãos se a recusa é que fere de morte? Esta não é a essência perfumada do amor nem o sem aroma do nada mas nem sempre se divide a laranja em dois gomos e nem sempre é sempre certo ou sempre errado e este é o tempo mitigado do talvez. Talvez agora haja tempo para outro agora que não seja verdade nem mentira, nem para sempre nem jamais. Momento de entretanto enquanto o nada não se desvanece ou se constrói. A rotura não é feita de hiatos vazios, inanimados e sem história. Pode ser uma recta de pontos minúsculos e desmaiados, percurso para o elo do início ou da retoma, pequenos contos ou historietas que intercalam o vácuo de personagens. Não se lhe chame escolha mas antes caminho que não renega nem compromete que não se entende esse ódio, essa repulsa, essa fuga do presente. Que fantasma tão pesado e tão forte assim se perpetua e se prolonga para que não haja tempo, nem agora?
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