tributo ao passado
Naquela noite eu soube que a felicidade que sentia se desvaneceria em breve. Pude ler no alegre crepitar da lareira, como se de uma antevisão se tratasse, que aquele era um tempo fugaz. Como fugazes têm sido todos os momentos de felicidade na minha vida. Reunia ao pé de mim a imagem da plenitude. O meu adorado pai e o meu também adorado cão que se deitara aos pés dele junto ao quente do fogo. Era um quadro perfeito: um homem lindo de sessenta e oito anos e um labrador louro, cor de ouro e mel que emprestava um ar de paz à reunião de família. Não esquecerei nunca a clara percepção que tive nessa noite. Como se o excesso de alegria me despertasse todos os sentidos para a realidade de a perder. E assim foi. Ambos doentes pouco tempo depois me deixaram. Nem por isso passei a ter medo da felicidade. Aprendi apenas a disfrutá-la sempre que ela, às escapadelas breves e fortuitas, se me oferece ao disfrute. Aprendi a guardar e a recordar com carinho esses poucos quadros perfeitos. Um namoro junto à "correnteza" em Sintra, uma tarde no parque do Campo Grande, um passeio de barco de Luanda para o Mussulo, o moinho da Azóia ao entardecer...
Este é um tributo ao passado e também ao presente.
Este é um tributo ao passado e também ao presente.
2 Comments:
A serenidade do teu texto é impressionante. Chega quase a sentir-se o calor que emana da lareira.
No fim de contas a felicidade traduz-se no grau de serenidade em que nos encontramos.
Força! E carpe diem...
o net pulha
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