orgulhosa ou tristemente só
Ontem fui à cidade. Encaminhei os meus passos por entre as ruas que há muito não via com aquele ritmo demasiado austero de quem disfarça a insegurança. Observei os outros, as gentes que se cruzavam distraídas e indolentes com a "griffe" citadina colada nas roupas e no corpo. "Olhei-os de longe e mirei-os de perto, que quem não vê caras, não vê corações". Vi mulheres demasiado magras e taciturnas como que pedindo desculpa ao Criador por terem nascido. Mangas compridas que tapam as mãos, detalhe de moda infeliz, recriando num misto de vergonha e pano, as fraldas de criança que se enrolam nos dedos nervosos e carentes. Preto, demasiado preto, apelando mais à depressão que à sedução... Nem a zona lombar semi-nua lhes emprestava grande encanto, descobrindo a lingerie e as nádegas num jeito de alma sem abrigo. Top´s e camisas sobrepostas sem critério aparente, tudo se compondo para uma imagem infeliz e errática. Talvez por isso os homens me pareceram demasiado compostos. Com cautelas femininas na escolha dos detalhes e acessórios, carregando o jugo que outrora pertencia às mulheres, da salvaguarda da suavidade, da fragilidade e da estética. Caminham bamboleantes, deixando um rasto de perfume adocicado que quase lhes apaga o reconhecimento da sua masculinidade.
Observei os mais velhos e pareceram-me cansados. Demasiado cansados. Com o cansaço de quem já cumpriu o seu destino e não vislumbra ninguém para a passagem do testemunho. Dei meia volta mas volta e meia ainda me recordo desta imagem que me ficou: geração curvada ao peso da incerteza, geração instavelmente suspensa numa ou outra trave mestra que já antiga mas ainda firme, se sente quem sabe, orgulhosa ou tristemente só.
Observei os mais velhos e pareceram-me cansados. Demasiado cansados. Com o cansaço de quem já cumpriu o seu destino e não vislumbra ninguém para a passagem do testemunho. Dei meia volta mas volta e meia ainda me recordo desta imagem que me ficou: geração curvada ao peso da incerteza, geração instavelmente suspensa numa ou outra trave mestra que já antiga mas ainda firme, se sente quem sabe, orgulhosa ou tristemente só.
2 Comments:
Deste a senha da revolução.
é o estado actual das coisas. sempre com os olhos em baixo, independentemente das razões. depois há as excepções.
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