a metamorfose
O seu corpo sobrava-lhe. Sentia na rua os olhares colados, como se pudessem adivinhar que a sua lingerie condizia com o blusão vermelho de cabedal. Havia esta outra mulher que coabitava dentro do seu corpo, deusa da sensualidade, que lhe tomava os olhos em tons de verde e lhe emprestava um ar fatal. Estava habituada às metamorfoses do seu corpo, a que os seus gestos fossem tomados e o seu andar alterado. Nesses dias, o seu perfume era mais intenso, os seios mais volumosos e a voz mais ampla e grave. Só ela se dava conta deste contraste. Da luta entre medo e desejo, entre criança e mulher. Só ela sabia que essa outra lhe tomava o mundo inteiro nos braços e fazia dele uma bola de cristal, que alcançava o cume para além da serra opressora e se deitava ao sol em terras distantes. Essa mulher que quando dançava, cerrava os olhos para não ver os outros e soltava de si lendas antigas, sabedoria infinita de todas as mulheres mas esquecida pelas demais. E os braços ondulavam e as coxas entreabriam como a deixar espaço ao homem desejado. Nesses dias temia por si rendida à herança de ser assim tão mulher.
2 Comments:
será esta a descrição mais bela que já li de uma das caracteristicas femininas mais achincalhadas? Assumindo que estás a falar da menstruação e de como uma adolescente a sente! é pena que a realidade, pelo menos como amigas mo descreberam não seja assim tão bela... aliás a realiadade nunca assim é tão bela.
A realidade nem sempre é bela, é bem verdade! Mas é sempre possível embelezá-la ou tentar ver o lado mais ensolarado da vida... porque ao sol a atitude é diferente ;)
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