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Naquele dia de chuva sentar-se-ia no cais.
A solidão encharcava-lhe a alma que quase afogada lhe morria aos poucos. Terapia de choque - dizia ela - invejando secretamente os que se podiam entregar ao namoro do sofrimento. Até a vigília da dor é só para alguns!
Na falta de amor maior, que lhes faça cuspir a mágoa e seguir em frente, dão-se por inteiro ao seu torpor. Nunca entendera a justiça que presidia à repartição dos risos mas era sábia no entendimento dos esgares alheios. Com a cabeça enterrada nos joelhos,
vencia-a o desalento como anestesia de morte. Fina, a dor da raiva, como farpa do orgulho moribundo, tomaria lentamente o seu lugar
até que imensa e redonda lhe explodiria em grito de vida. Não há certo nem errado, nobreza maior ou menor entre raiva e desalento. Há a luta da sobrevivência e o destino mordaz que faz vergar os ombros mais fortes à sua crueldade.
Há a alma que rasgando por dentro a lama que a soterra, vem à tona do corpo à força de luta, num dia de chuva num cais qualquer.
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