quinta-feira, julho 22, 2004

ensaio do adeus


A vida é um ensaio do adeus, uma preparação constante para a partida. Não vale a pena munirmo-nos de nada nem tão pouco nos despojarmos de tudo, porque é indiferente. É indiferente o rumo, a estadia. Na tentativa de ludibriarmos esta verdade, encontramos sentido na razoabilidade de condutas, fé na causa-efeito das acções e da salvação. Por vezes, a medo da vida, alguns encontram refúgio na morte, invertendo a lógica das premissas porque é a vida o único refúgio da morte. Esta é o sentido por si só e em si só.
Aqueles que assim interiorizaram vivem sem regras ou no excesso da sua estatuição e do seu cumprimento, ou por as acharem absurdas e irrelevantes ou por, contrariamente, serem a única referência palpável que lhes resta.
A vida é um ensaio do adeus, um ensaio para o desconhecido ou, mais fria e agnosticamente, para o nada. E do nada fazemos Deus, e pressentimo-Lo e adoramo-Lo quantas vezes a medo e por medo. A vida é antes um sinal de Deus. É o único "todo" que conhecemos e é desse "todo" e nesse "todo" que deveremos encontrar e perceber a Sua presença. Deverá ser por isso a vida um ensaio de alegria e não de depressão. Deverá ser por isso a nossa existência pautada no eterno reconhecimento do que nos foi dado e não do que tememos a despeito de, sem qualquer aviso, nos passar a vida tão de repente sem que logremos a certeza do reencontro divino.

3 Comments:

Blogger Rui MCB said...

Agnosticamente (ou heréticamente, talvez) protesto da minha alegada "frieza".
Vivo sem fé Nele e com calor. E esta hem?
Cordiais saudações e boa ventura na blogoesfera.

11:23 da tarde  
Blogger Bastet said...

Digo apenas que é uma visão mais fria encarar o fim como um "nada" e não como uma suposta "salvação" ou reencontro divino que, de resto, ponho em causa no final do post.

11:34 da tarde  
Blogger Rui MCB said...

Certo. Fiquemo-nos então com o mistério que esse é comum a todos.

11:39 da tarde  

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